Outro dia acessei numa rede social e vi a publicação de uma imagem em que um estudante bolsista do PROUNI segurava um cartaz com a seguinte frase: “O filho de pedreiro também vai ser doutor.” Eu “curti” logo, essa frase evidencia um dos avanços conquistados com os governos do PT no Brasil. Mas por uma aparente ironia da história e das relações sociais vigentes, as mesmas conquistas obtidas nos governos do PT relacionam-se e contradizem-se com o processo de superaquecimento na indústria da construção civil e sua perversa exploração da mão de obra dos seus trabalhadores, que são os verdadeiros responsáveis pelas obras.Em Teresina o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil e do Mobiliário do Médio Parnaíba - SITRICOM realizou uma pesquisa que dentre outros problemas, revela que mesmo sendo a categoria responsável pela produção, 23,72% dos operários não possuem casa própria. No acesso aos bens, a pesquisa apresentou outra manifestação de exclusão social, os dados revelam que 88,78% não possuem freezer; 23,72% não têm aparelho de som; 20,51% não têm DVD; 92,95% não possuem ar-condicionado; 85,26% não têm computador; 85,9% não têm microondas; 80,13% não têm máquina de lavar roupa; 19,23% não têm celulares; 88,14% não têm automóvel; 20,51% não têm bicicleta; e 66,35% não têm moto.
Os filhos dos trabalhadores na construção civil, particularmente em Teresina como aponta a pesquisa, por mais que acessem os programas de bolsas de estudos do governo federal, convivem com uma situação social que os impedem de seguirem com seus cursos apenas estudando. O movimento grevista da construção civil força a sociedade a voltar seus olhos para o segmento mais oprimido e explorado entre os trabalhadores, além de contribuir para elevação da autoestima das pessoas que geralmente são vistas de forma preconceituosa pelos empresários como apáticas, incapazes para organização e não merecedoras das leis trabalhistas.
Conquistas significativas após as mobilizações
Na sexta feira a assembleia geral dos trabalhadores resolveu por maioria absoluta dos votos, encerrar a greve com conquistas substanciais para a categoria, como o aumento de 10% nos salários em todos os níveis e cesta básica de no mínimo 30kg. Mas depois de uma semana de greve, a conquista mais significativa foi a visibilidade política da categoria na campanha salarial 2011/2012, nos últimos dias Teresina presenciou a maior mobilização do movimento sindical dos últimos anos, resultado de um efetivo trabalho de base realizada em cada local de trabalho, com distribuição de panfletos; conversas nos portões dos canteiros de obras; discussões e decisões democráticas, tudo isso contribuiu para a massiva participação da base nas marchas e concentrações.
Ainda temos muitas mobilizações a fazer para elevar o nível de qualidade de vida dos trabalhadores na construção civil e de sua família, quando seus filhos poderão cursar o ensino superior e disporem de tempo livre para acesso a cultura, prática esportiva, e outros estudos. A luta do trabalho contra o capital no setor da construção civil reflete de maneira nítida a contradição do atual tipo de sociedade de classes, quando os que constroem a cidade fisicamente são os mais excluídos na socialização injusta das riquezas produzidas. Talvez alguns dos trabalhadores que participaram das mobilizações ainda não possuam uma casa própria, mas com certeza estes conquistaram algo bastante valioso, que é o conhecimento de que a luta vale a pena, e de que as mudanças em suas vidas estão em suas próprias mãos.
Texto: Sérgio Henrique Abreu é estudante de Serviço Social e Secretário da Juventude do PT de Teresina.
